sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O governo paulista é contra a TV Cultura?

Via Estadão
Por Eugênio Bucci
11.08.2011

O título deste artigo não é uma provocação. A pergunta que ele encerra está na ordem do dia. Afinal, o que o Palácio dos Bandeirantes quer da TV Cultura? Pretende asfixiá-la? Embora essa resposta se esconda nas ambiguidades melífluas do governo, os fatos parecem indicar que sim, a intenção é abandonar a nossa emissora pública à carência total de recursos. Entre as evidências mais recentes, destaquemos uma, apenas uma. Na segunda-feira, reportagem da Folha de S.Paulo, assinada pela repórter Lúcia Valentim Rodrigues, mostra que, ano após ano, vai escasseando o investimento público na Fundação Padre Anchieta (à qual pertencem a Rádio e a TV Cultura). Em 2003, ele representava 81,53% da receita da fundação. Agora, está na casa dos 50%. Em valores absolutos, o declínio é dramático. A previsão de R$ 84 milhões de verba estatal para este ano fica 35% abaixo da verba de 2010.

Ainda que não sejam exatos, esses números não são acidentais. Há neles a consistência de uma política deliberada, embora não declarada. Prestemos atenção, porque, se levada ao limite, essa política vai matar a TV Cultura. Das duas, uma: ou ela não terá recursos para mais nada e se perderá na irrelevância, até desaparecer na garoa cinzenta, às margens do Tietê, ou terá de buscar o faturamento no mercado publicitário - o que já vem fazendo, há uns bons anos - e, nesse caso, ficará cada vez mais parecida com as televisões comerciais. Será a morte, do mesmo jeito.

Uma televisão pública parecida com as emissoras comerciais é uma instituição dispensável. Não tem razão de ser. A TV pública só é necessária às sociedades democráticas porque consegue pôr no ar uma programação alternativa, substancialmente distinta, capaz de dar destaque a atrações que não trariam resultados econômicos a uma empresa que depende de lucro para sobreviver. Exatamente por isso, ela não deve exibir publicidade de lojas e de automóveis em seus intervalos. Quando cai nessa tola armadilha, fica esteticamente similar às outras; a sua cadência, o seu ritmo, vai se tornando igual - e, mais ainda, a sua lógica ordenadora interna é absorvida pelas leis do mercado, como se ela fosse comercial. Aí, ela passa a prestar contas aos anunciantes, em vez de prestar contas à cidadania. Continua