sábado, 6 de agosto de 2011

DESENVOLVIMENTO: PARA ONDE? PARA QUÊ? PARA QUEM?

Via Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/FIOCRUZ
Radis nº 108 – Agosto de 2011
Por Adriano de Lavor e Katia Machado


Modelo que vigora no mundo globalizado expõe sistema produtivo predador, ignora direitos e gera exclusão

Regimes de trabalho com foco apenas na produção, sem considerar o trabalhador e as demandas sociais; populações que são deslocadas ou atropeladas por conta de grandes empreendimentos; mau planejamento das cidades e as catástrofes urbanas daí decorrentes; a produção voltada cada vez menos a atender necessidades e cada vez mais a gerar mais riqueza; alimentos e até mesmo pessoas tomados como commodities. São marcas do modelo de desenvolvimento hoje em vigor no mundo globalizado, um modelo que autoriza a exploração do ser humano e a busca por se dominar a natureza, ainda que daí resulte exclusão, pobreza, desigualdade e um futuro incerto para as próximas gerações. Vislumbrar essas consequências, no entanto, não tem sido suficiente para frear essa trajetória, o que tem levado pesquisadores, cientistas sociais, gestores e detentores de cargos políticos a levantar as questões: para onde caminha o desenvolvimento? Para quê? Para quem?

Esse mundo pautado pela ideologia do capital, movimenta-se pela concorrência entre as grandes corporações, como aponta o sociólogo Ricardo Antunes, professor titular de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. “As corporações não se contentam mais com os nichos nacionais. Querem amplitude global e, para isso, reduzem direitos e salários e amplificam intensidade e ritmo do trabalho”, analisa, dando clara pista para as respostas às questões que abrem esta reportagem.

COMPETIÇÃO GLOBAL

A vida humana como extensão ilimitada da
produção e do consumo : ideologia do crescimento
 em cenário de competição global
Foto: Cícero R. C. Omena/flickr

Antunes explica que, no cenário de competição global, as empresas não somente se apropriam da dimensão manual do trabalho, como ocorria no taylorismo e no fordismo, como do seu caráter intelectual. No livro O caracol e sua concha — ensaios sobre a nova morfologia do trabalho, entre tantos que escreveu sobre o tema, ele diz que o trabalho assumiu uma forma completamente diferente daquela de 40 ou 50 anos atrás. Sua tese é que hoje o mundo do trabalho oscila entre as dimensões perene e supérflua. “Perene, na medida em que uma parcela da população consegue se manter no mercado de trabalho, cumprindo jornadas cada vez maiores e realizando múltiplas atividades. E, supérfluo, dado que cada vez mais pessoas vivem a condição do desemprego estrutural, em que a vaga do trabalhador foi substituída por máquinas ou processos produtivos mais modernos, ou foram empurradas para a informalidade e a precariedade”, escreve.

Antunes aponta um “padrão chinês” de produção, sintonizado com a ideologia do capital, que vigora na China e que vem sendo exportado para o mundo. “Esse padrão se caracteriza por baixíssima remuneração da força de trabalho, alta intensificação da sua exploração e, se possível, pela exigência de qualidade da mão de obra”, observa. “Não pode haver desastre maior do que uma sociedade que viveu uma revolução socialista ser hoje modelo de exploração do trabalho”. Continua